Muito além da fachada…

Caminho sem volta, a aplicação dos conceitos de sustentabilidade nas construções. Ninguém melhor do que um cliente consciente, para cobrar do mercado tais medidas. Só assim, os incorporadores serão “sensibilizados” a mudarem seus paradigmas de investimento.

Os desafios das construtoras para criar projetos residenciais realmente sustentáveis em um mercado dominado pela maquiagem verde.

Fonte: Nathalia de Castro
Arquitetura & Construção / Especial Construção Sustentável – 12/2010
Num grande centro urbano, comprar um imóvel de um empreendimento que promete plantar uma árvore para cada futuro morador parece uma ideia simpática. Se houver lugar para as lixeiras de recicláveis, melhor ainda – afinal, quem não se preocupa com o meio ambiente? Vendidos como iniciativas verdes em inúmeros lançamentos residenciais no país, detalhes como esses podem agradar, mas estão longe de fazer desses edifícios construções efetivamente ecoeficientes. “Ressaltar a sustentabilidade de um único aspecto do projeto é o primeiro sinal de que existe greenwashing [argumento que distorce ou falseia a ideia de baixo impacto ambiental visando a venda]”, explica Paola Figueiredo, diretora do grupo SustentaX, empresa pioneira na assessoria para certificação ambiental. E enquanto as grandes empresas não poupam recursos tecnológicos e financeiros para obter algum selo verde para prédios comerciais, as construtoras e incorporadoras brasileiras ainda batem na trave e aplicam muitos conceitos de greenwashing em edifícios residenciais. Mas o assunto está longe de ser ignorado pelo setor.Alguns empreendedores já esboçam reação e se esforçam para contemplar os três pontos fundamentais da chamada tríade verde: ter impacto ambiental reduzido, trazer benefícios sociais para todos os envolvidos na obra (dos operários aos usuários) e ser economicamente viável. O projeto Spazio Acqua, concebido pela Cosil em Aracaju, é um bom exemplo. Muito bem avaliado pelo Programa Obra Sustentável do Santander (leia quadro na pág. 121), a iniciativa é um reflexo de uma nova mentalidade adotada pela empresa há três anos, quando a construtora contratou a SustentaX para operar uma verdadeira transformação em seu canteiro de obras: seguindo as novas diretrizes, substituíram aço e vidro comuns por outros com percentual de reciclagem, passaram a comprar cimento CP III (que usa uma quantidade menor de calcário na fabricação e por isso emite menos CO2) e a usar produtos regionais (distantes até 800 km da obra), o que diminui os gastos de logística e emissão de gases. Uma segunda construtora que está empenhada é a Even. Há dois anos, ela é a única representante da construção civil no Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&F Bovespa, indicador formado por ações de até 40 empresas comprometidas em alto grau com tais ideais.

Também foi uma das primeiras a publicar o Relatório de Sustentabilidade do GRI, apontado como um dos dez melhores do país pela consultoria inglesa SustainAbility. Ultimamente, o maior esforço da incorporadora tem sido o de divulgar o trabalho de bastidores da construção civil. “Estamos aprimorando os descritivos para que o cliente consiga diferenciar os produtos. Muitas vezes quem compra um apartamento não pergunta nem sobre o tipo de madeira usada, e os vendedores raramente destacam tais aspectos”, ressalta Silvio Gava, diretor de sustentabilidade da Even. Outras escolhas acertadas que fazem a diferença, mas ninguém vê, vão desde fôrmas para concreto feitas de plástico, que garantem 100 reutilizações, em vez das 18 permitidas nas de madeira e tintas com baixo nível de compostos orgânicos voláteis (COV), a tubulações hidráulicas não embutidas, para facilitar futuras reformas e diminuir resíduos.

CUSTO OU INVESTIMENTO
Um dos quesitos que caracterizam um edifício como sustentável ainda aparece como entrave à multiplicação de empreendimentos do gênero: a viabilidade econômica. Afinal, o valor inicial de uma construção como essa pode chegar a 10% mais do que o de uma convencional. O custo direto (ou seja, o investimento no processo de edificação) é maior, mas a tendência é que o custo indireto (com a manutenção e a operação do prédio) caia. Se corretamente projetado, esse retorno, ou payback, pode superar em poucos anos os gastos adicionais preliminares. “Um dos principais objetivos desse tipo de construção é se manter ativa por ao menos 40 anos. E se ela é mesmo sustentável, terá redução energética significativa, o que vai garantir sua durabilidade”, resume Thomaz Assumpção, presidente da Urban Systems, empresa de estudos de mercado e dados demográficos. No limite, um edifício realmente responsável deveria ter projetados também a sua vida útil, durabilidade e até o modo de uma futura demolição, completando a análise de ciclo de vida. Mas a situação permanece inalterada uma vez que ainda não existe demanda dos consumidores por empreendimentos residenciais realmente verdes – ao contrário do movimento que ganha força no setor corporativo, impulsionado pelas multinacionais que se instalam no país com uma agenda sustentável a cumprir. Se ali, imóveis certificados resultam em menor tempo de vacância e aluguel elevado (refletindo uma valorização), aqui, os in¬corpo-radores temem perder competitividade pelo valor de venda mais alto, sem a perspectiva de reaver o excedente no uso e na operação, que ficam a cargo de outro agente do mercado.

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BAIANOS NA CORRIDA PELA CERTIFICAÇÃO

Concedido no país pela Fundação Vanzolini, o selo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) já está atraindo construtoras e incorporadoras interessadas em imprimir esse diferencial em seus projetos residenciais. Dois empreendimentos da empresa baiana Ecomundo, já obtiveram a certificação na etapa de programa: o Infinity Ecologic Residence (acima) e o Evolution Ecologic Residence. Agora, serão avaliados nos quesitos concepção, realização e operação. Fundada em 2005, a construtora já traz um trunfo de peso no currículo por ter dois projetos em processo de certificação. Entre as tecnologias previstas nos empreendimentos, estão placas de energia solar para aquecimento dos chuveiros, medidores individuais de água para os apartamentos e sistema de reaproveitamento de líquidos das torneiras e descargas (águas servidas e cinza).

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INCREMENTOS A PASSOS MIÚDOS

As obras do condomínio True Chácara Klabin, em São Paulo, ainda não começaram. Mas o projeto já está sendo lançado como a grande aposta da empresa Even. “Certificamos o True na fase Programa do selo AQUA [Alta Qualidade Ambiental] e estamos em busca das demais”, adianta Silvio Gava, diretor da construtora. Até agora, entre os atributos, não desponta nada de tão original em relação aos já usados pela empresa e no mercado: sensores de presença em hall e escadas e tubulação aparente que facilita a manutenção. “Fazer um produto comercialmente adequado a esses valores é relativamente simples, mas direcionar a empresa para isso é mais complicado. É importante incluir tais princípios na aquisição do terreno, durante a construção e até no uso”, justifica Silvio. Um exemplo da cadeia sustentável que se estende a outros setores da empresa é o Projeto Toalha, em que cada funcionário da obra recebe uma peça limpa todos os dias, e o Projeto Escola, parceria com uma escola estadual de primeiro e segundo graus, em São Paulo, onde funcionários da construtora realizam ações educativas voluntárias. Iniciativas como essas não constam exatamente da cartilha ecológica, mas responsabilidade social é outro pilar da sustentabilidade.

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APROVADO COM LOUVOR
A lista de atributos que fizeram o Spazio Acqua, na capital do Sergipe, entrar para a seleta lista de empreendimentos com a placa de Obra Sustentável do Santander é extensa: construção de uma nova rua e reforma da calçada nos arredores – o que demonstra a preocupação do projeto com o entorno -, todos os ambientes têm janelas, facilitando a ventilação e a iluminação natural, e os apartamentos virão equipados com brindes, como os recipientes para a coleta de óleo de cozinha. “A empresa precisou se adaptar aos critérios sustentáveis, principalmente na execução das obras”, ressalta Samara Meneses Silva, coordenadora do comitê de sustentabilidade da construtora Cosil. Outros pontos fortes do projeto são os estacionamentos revestidos com piso drenante e “piscininhas” que retardam a chegada da água pluvial à rede pública: aspectos citados pela consultoria Sistema Assessoria Ambiental. Há ainda alguns itens mais conhecidos, como as torneiras com temporizador e as bacias com sistema duplo de acionamento nos banheiros. Nas áreas comuns, portas e batentes levam madeira certificada.

BANCO É PONTAPÉ INICIAL PARA QUEM DESEJA CERTIFICAR

Criado há quatro anos pelo banco Real (hoje Santander) com a ajuda da consultoria Sistema Assessoria Ambiental, o Programa Obra Sustentável tem incentivado as empresas que querem se adequar às normas de sustentabilidade sem desembolsar muito. Todas as construtoras que vão pedir financiamento ao banco podem passar por essa avaliação, que dura o tempo da obra (cerca de dois a três anos). Dividida em três fases, ela investiga a política da empresa em relação ao tema, o projeto de arquitetura e, por último, o canteiro de obras. “Não é uma certificação, mas a empresa que atinge um desempenho de ao menos 70% recebe uma placa de reconhecimento”, diz a advogada Carolina Piccin, diretora da consultoria. Outra vantagem é que o solicitante terá benefícios contratuais em futuros empréstimos – apesar de o financiamento não estar atrelado ao resultado da avaliação – e já vai ter dado o pontapé inicial em busca de um selo LEED ou AQUA. Mas, para obter os 70% de aprovação, o empreendimento precisa ter ao menos 50% de desempenho no quesito arquitetura – o que tem sido raro ultimamente: “Não vemos ainda uma conexão do projeto com as práticas sustentáveis da empresa, é uma área que ainda está pouco desenvolvida”, avalia Carolina.

Publicado por Dora Brasil Consultoria

Arquiteta, Engenheira de Segurança do Trabalho, Assistente Técnica em Perícias e Vistoriadora, com atuação no mercado há mais de trinta anos, direciona seu trabalho à questões de conforto, funcionalidade, eficiência, saúde, segurança, bem estar e preservação do meio ambiente, sempre com um olhar além do visível. Agora, no século XXI, dando ênfase aos conhecimentos ocultados da Humanidade por séculos, mas que oferecem a expansão da consciência em relação ao Todo que nos envolve e nos torna muito mais especiais do que pensamos até então. Ciência e Metafísica de mãos dadas nesta nova jornada profissional, através de ferramentas como a Radiestesia, a Geobiologia e as emissões da Radiônica. Em síntese, tanto as Consultorias da Engenharia (tangíveis) quanto as de percepção das energias (intangíveis), são realizadas com o olhar amplificado, visando oferecer infinitas possibilidades de identificação, correção, harmonização ou cura de locais, para os seres vivos ocuparem em condições de salubridade plena. DB

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