Faculdades de Arquitetura – e a Vida -, jamais lembram o fato de que qualquer pessoa, mesmo as que não são formalmente qualificadas como “portadoras de necessidades especiais” ou “pessoas com deficiência”, estão sujeitas a se tornarem PNE ou PCD.
Até o próprio Arquiteto, autor de gloriosos projetos com espaços absolutamente exíguos, portas com 60 cm de largura, pisos escorregadios, banheiros minúsculos, espaços comerciais sem acessibilidade (acesso por escadas, por menor que seja o número de degraus), pode ser vítima de uma simples queda que o leve a precisar de imobilização por, no mínimo, 30 dias…
Imobilização quer dizer mobilidade reduzida, necessidade de adaptações e recursos até então ignorados pelos “pensadores dos ambientes construídos”. Você já se imaginou, caro Colega, usando cadeira de rodas, muletas ou andador para ir aqui e ali? Pois é… a vida não para.
Essa reflexão me ocorreu por me ver nesta exata situação. Após acidente doméstico banal, precisei ficar cerca de seis semanas sem pisar no chão com um dos pés. A cada saída, um exercício mental quanto às possibilidades de ir a este ou aquele lugar, tendo em vista as condições de acessibilidade oferecidas.
vivemos numa cidade onde a acessibilidade é tratada como piada – leiam-se as “calçadas tácteis”, compulsoriamente instaladas, porém sem que o seu real propósito seja cumprido.
Demagogia pura.
Algum gestor público (muitos dos quais são Arquitetos) já experimentou ficar sem visão (mesmo como exercício didático), caminhando com uma bengala sobre uma faixa de placas tácteis aplicadas em calçada de pedra portuguesa? Será que ele teria a competência de discernir uma coisa da outra? Duvido…
Voltando aos colegas, e os sanitários para PNE? Já passou por sua cabeça que um cadeirante muitas vezes vai acompanhado ao sanitário? Pois é… e os espaços são tão apertados, que o tal giro da cadeira nem se completa, pois esbarra num dente de pilar que entrou de gaiato no lugar. O mínimo que é implantado deve-se à ABNT NBR-9050, mas o conceito de aproveitamento extremado de cada m² é fruto da pressão do incorporador, o grande algoz dos Arquitetos de médias e grandes edificações.
Este papo todo, caros Colegas, visa despertá-los para a grandiosa Missão do Arquiteto enquanto projetista do espaço construído, tendo como usuário o próprio Homem.
Desde a origem da humanidade, os espaços eram concebidos com funções específicas, visando conforto e proteção. As necessidades humanas avançaram com o desenvolvimento cognitivo e social, surgindo novas demandas. O importante é observar que o Homem produzia espaços para o Homem, seu bem estar e necessidades essenciais.
Em que momento histórico tal propósito se perdeu? Terá sido o capitalismo atroz que corrompeu a noção de conforto, bem estar e funcionalidade?
O que se quer da Arquitetura?
Onde está a Empatia com cada pessoa que vai utilizar o espaço que você, Arquiteto, está concebendo?
Empatia é o conceito que faz Humanos se reconhecerem como semelhantes. É colocar-se no lugar do outro, compreendendo suas dificuldades e necessidades. E a Arquitetura tem por objetivo atender às necessidades de utilização dos espaços por este Humano, indistintamente, inclusive por aqueles que estão provisória ou permanentemente desabilitados de suas funções motoras, visuais, auditivas ou outras quaisquer.
Assim o Arquiteto deixará sua marca, seu serviço à humanidade, fazendo pelo Outro o que ele gostaria que fizessem por ele. Isto te lembra algo?
Deixe a sua marca e… seu comentário!
DB
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